sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Se eu não me mexesse

"A Caixa Geral de Aposentações indeferiu o pedido de reforma antecipada da funcionária pública da Junta de Freguesia de Vitorino de Piães, em Ponte de Lima, portadora de lombalgia e cervicalgia degenerativas."

Ana Maria Brandão, questionou
"Se eu praticamente não me consigo mexer, se nem sequer me posso levantar da cama para ir à casa de banho, como vou trabalhar?"

É como o Cristiano Ronaldo, se não sai do colchão, não rende.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007



Helen Frankenthaler
Mountains and Sea
1952

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Pai Natal Biológico



"Criança será entregue ao pai biológico a 26 de Dezembro"

Acho de muito mau gosto.
As prendas são para oferecer ou na noite de 24 ou na manhã de 25. 26 já é desleixo.
O Pai Natal, aliás o juiz, justifica este atraso com a sobrecarga a que os duendes que tratam os processos estão sujeitos.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Sobremesa amarga



Quando Paula Rego, a propósito da sua exposição no museu Rainha Sofia, falava do seu quadro intitulado "Quando nós tinhamos uma casa de campo, dávamos grandes festas, e depois saíamos para matar pretos", achei que era um título impertinente que definia de forma perfeita o colonialismo em geral e o português em particular.

Esta semana vi mais um episódio do documentário "A Guerra", de Joaquim Furtado, que focava em particular a relação entre brancos e pretos na África portuguesa. Não chorei.
Fiquei absolutamente tocado, derrotado e envergonhado com o que ouvi. Engoli em seco, senti a cara quente e comovi-me com uma realidade que, embora não completamente desconhecida, me pareceu uma novidade cruel, demasiado realista para a sensibilidade suave que hoje impera. Desde que os brancos fossem os patrões e os pretos os criados, seriam sempre bons amigos.

Não consigo comentar. É simplesmente demasiado forte. E foi por isso que, sem tecer juízos de valor, como português, tive que conter as lágrimas, terça-feira passada, enquanto jantava.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Gostos...



Alfredo Duarte Marceneiro nasceu em 1891.
Gravou este fado em 1972 com 81 anos de idade.

Como os gostos não se discutem, disto gosto eu.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Oh não...



"A fadista, porém, soube do veredicto quase no fim do concerto e foi ela própria que o comunicou ao público: "Eu sei que há uma certa ansiedade no ar por causa de um dito cujo prémio. Devo dizer-vos que esse prémio foi para a Colômbia. Pelos vistos, eu tomei a decisão certa. Fiquei por cá com a gente da minha terra". Foi assim que Mariza conseguiu dar e "receber" um dos momentos mais arrepiantes e emotivos da sua carreira. A ovação não se fez esperar aos primeiros acordes de "Gente da Minha Terra" e as lágrimas brilharam-lhe nos olhos e num impulso abandonou o palco para se misturar com o público, numa interpretação verdadeiramente sentimental. Sem que os músicos parassem de tocar, Mariza fez silêncio enquanto os milhares de pessoas se emocionavam tanto quanto ela. De regresso ao palco, esteve por segundos de costas para a plateia. Mas foi com uma força visceral e uma dignidade exemplar que interpretou o seu fado mais popular actualmente até ao fim, numa apoteose de comoções."


Depois, cortou duas orelhas, deu trezentas e vinte e nove voltas à arena, e saiu em ombros.
Eu avisei. Agora vamos ter que a aturar!

http://expresso.clix.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/162463

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Invertebrados

Os portugueses só gostam de dizer mal.
É natural, tendo em conta o estado a que chegámos, ou pior, que vamos insistindo em manter.

Esta é uma história sobre dois funcionários públicos. De uma senhora, funcionária administrativa da Junta de Freguesia de Albertino dos Pães, e de um senhor, o deputado profissional preferido, Marques Mendes.

A senhora pelos vistos não trabalha há muitos anos com a desculpa de ter umas dores aqui e acolá e a junta médica da CGA lá achou que ela estava a dar o golpe. "Pega no colarzinho branco, pega nas almofadinhas, e toca a pegar ao serviço". E ela foi. O que é assustador. A mesma situação dos McCann - se é verdade, é vexatório para os visados, se é mentira, é uma encenação inominável.

Marques Mendes também nunca trabalhou e também pediu a reforma à CGA. E vão-lha dar, naturalmente, nos termos da lei portuguesa. E nem sequer precisou de se apresentar a uma junta médica, que obviamente o consideraria inapto para qualquer tipo de trabalho. Não vá a reforma ser escassa, Marques Mendes acumulará a dita com o tacho de administrador da Nutrotron.

Que país é este? Chega a um ponto onde já não é anedótico nem irónico. É um espelho vergonhoso das injustiças sociais que os portugueses estão ainda dispostos a aceitar. Onde uma mulher num estado de saúde lamentável cumpre a ordem infame por puro medo de perder o seu pequeno rendimento. E onde um priviligiado goza com os contribuintes, impunemente, no mais estrito cumprimento da lei e exercício dos seus direitos.

Os membros da junta médica que consideraram a senhora apta para o trabalho vão ser penalizados? O presidente da Assembleia da República vai dar parecer negativo ao processo de Mendes? Claro que não. Somos cauda (para não usar um sinónimo) da Europa e gostamos.

Antes que a lei que regula as reformas dos deputados mude e as coisas se compliquem, não será de estranhar ver uma onda de deputados a meter baixa de colarzinho branco ao pescoço. Mas o uso de um colar cervical pressupõe que o utilizador tem espinha dorsal...

domingo, 4 de novembro de 2007