sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Sobremesa amarga



Quando Paula Rego, a propósito da sua exposição no museu Rainha Sofia, falava do seu quadro intitulado "Quando nós tinhamos uma casa de campo, dávamos grandes festas, e depois saíamos para matar pretos", achei que era um título impertinente que definia de forma perfeita o colonialismo em geral e o português em particular.

Esta semana vi mais um episódio do documentário "A Guerra", de Joaquim Furtado, que focava em particular a relação entre brancos e pretos na África portuguesa. Não chorei.
Fiquei absolutamente tocado, derrotado e envergonhado com o que ouvi. Engoli em seco, senti a cara quente e comovi-me com uma realidade que, embora não completamente desconhecida, me pareceu uma novidade cruel, demasiado realista para a sensibilidade suave que hoje impera. Desde que os brancos fossem os patrões e os pretos os criados, seriam sempre bons amigos.

Não consigo comentar. É simplesmente demasiado forte. E foi por isso que, sem tecer juízos de valor, como português, tive que conter as lágrimas, terça-feira passada, enquanto jantava.

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