sexta-feira, 11 de maio de 2007

Liberte-se



A Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição tem em curso a campanha Liberte-se.
Antes de mais, tenhamos em conta quem são os associados da APED.

Pretende a APED a liberalização das compras aos Domingos e Feriados. Aqui surge o primeiro equívoco desta campanha enganosa. O que se quer liberalizar não são as compras mas sim as vendas.

O site apresenta um rol de pseudo-argumentos "em defesa da abertura do comércio ao Domingo":

- A abertura do comércio aos Domingos e feriados constitui uma imposição do ritmo de vida nas mais diversas aglomerações urbanas.

- O aumento do número de mulheres que trabalha fora de casa requer a abertura do comércio aos domingos e feriados.

- A abertura do comércio aos Domingos e feriados vai ao encontro das necessidades da generalidade da população trabalhadora

- A vontade dos consumidores portugueses exige a possibilidade de abertura do comércio aos Domingos e feriados.

- As associações de defesa dos direitos dos consumidores apoiam a abertura do comércio aos Domingos e feriados.

- A abertura do comércio aos Domingos e feriados gera emprego e evita desemprego

- A liberalização dos horários de abertura do comércio é uma exigência do comerciante.

- A abertura do comércio aos Domingos e feriados representa a consagração de um hábito responsável por boa parte das vendas da semana.

- A abertura do comércio aos Domingos e feriados é um pressuposto básico e determinante dos investimentos efectuados no sector.

- A abertura do comércio aos Domingos e feriados é um factor de equilíbrio no trânsito urbano.

- A abertura do comércio aos Domingos e feriados é fundamental para quebrar o círculo vicioso que provocou a desertificação dos centros urbanos e históricos.

- Durante 11 anos a legislação portuguesa permitiu a possibilidade de abertura do comércio aos Domingos e feriados.


A minha reacção a esta campanha é visceral. Transtorna-me o estômago e faz-me comichões por todo o corpo. E porquê? Não estão apenas as empresas de distribuição a pedir igualdade para todos os agentes económicos independentemente da dimensão? De facto estão. Mas eu não poderia estar mais contra.

Não defendo necessariamente o pequeno comércio em detrimento dos centros comerciais e hipermercados, mas como consumidor sinto falta de lojas especializadas e lamento o virtual desaparecimento do comércio tradicional. Estou farto de ser mal atendido, de ver sempre os mesmos produtos, aos mesmos preços, pensados para as massas. E disso tem vivido a distribuição em Portugal - oligopólios massificados para os zombies de fim-de-semana.

Mas o que é que o horário de funcionamento tem a ver com a viabilidade dos pequenos comerciantes? Muito. Uma loja pequena, que aposte na especialização de produtos e empregados tem dificuldade em implementar o sistema de turnos que o horário alargado exige. Uma grande loja, que recorre a empregados sem formação, e por conseguinte mais baratos, consegue facilmente contratar vários turnos desde as 10 da manhã até às 24h. Perdem os empregados, perdem os consumidores e ganham as grandes superfícies.

Se Portugal quiser ser um país com um sector terciário de qualidade, tem que criar uma melhor força de trabalho para o sector protegendo os consumidores. Isso conseguir-se-ia com regras iguais para todos, mas com horários limitados. 8 horas por dia, 5 ou 6 dias por semana. Nem mais nem menos. O consumidor já não seria empurrado para a romaria de fim-de-semana ao centro comercial e os empregadores estariam em igualdade de circunstâncias para contratar e formar empregados com uma visão de longo prazo.

Mas é claro, eu parto do princípio que os comerciantes existem para prestar um bom serviço aos consumidores...

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